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RUI CÓIAS
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São da nespereira as maiores folhas deste outono.
E a chuva, soprada em arco, vai nelas depositando as ripas de lama
que depois condensam as larvas que dos muros foram caindo.
Podemos caminhar melhor assim, pois seguimos o trilho na urzeira
e o seu ruído alinhavado estendendo-se por uma légua em volta.
Onde atravessarmos de uma a outra margem o vale,
deixando mais atrás os despenhadeiros aprisionados dos mortórios,
a torrente abrirá com a cor que vai do malva ao azul esverdeado a espuma.
E na modorra que o dia traz por sob a fila de árvores,
que de longe tomam a forma escorregadia das queimadas,
tu dizes-me ser por isto que tudo o que vem vem da memória
e que assim como nela, tal afluente desconhecendo os seus regatos,
a nossa direcção alternará na medida das sombras nos lameiros.

 
Relâmpago n.º 12
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