<

OLAqui a contiguidade com o silêncio
toca seu extremo, sem apurar limites:
os arcos mal se atrevem
a inquietar as cordas, mas por vezes
têm de transpor seu alheamento:

OLumas arcadas atacam, estremecem
e logo se arrependem e entregam
seu cuidado a outra voz,
que, se teme recebê-lo,
o deixa em suspensão
até sua plenitude ser arrebatada.

OLEntre o cântico e a dança,
uns instrumentos apontam a outros o caminho,
retrocedem a resgatar um assunto
antes somente sugerido,
que exige partilhemos o seu voo.

OLVoltadas umas para as outras,
as propostas enlaçam-se e completam-se,
aquietam-se na contemplação recíproca
e ganham força para se degladiarem
sem nenhuma vencer outra,
despedirem-se de nós
sem pronunciarem um sequer de nossos nomes,
e impor que continuemos a aceitar,
mesmo após se calarem,

OLo seu poder pungente,
que no sono se vai em nós insinuando,
sem que se lhe rendam nossas pálpebras:
impedem esse bálsamo sedante
de nos enlear, vedar nossos ouvidos.

OLO som apela tanto a quanto somos
que não resistimos a um fundo de águas últimas.



25 agosto 1999

José Bento
<
 
 
Relâmpago nº8 Prémio Luís Miguel Nava
<