<

OLNada se ouve, não é voz
mas acalenta o abandono:
derrama em nós tenso aroma
que é matéria de palavras
caladas e se incorpora

OLna cor que lhe aviva o alento,
vencida ante o arco-íris
mas declarando seu tom
para o termos na memória,
compartindo-o ao apontá-la;

OLna alteza que é sua haste
incorpórea ao ser colhida,
no acorde em que o olhar
se cala e deixa de vê-la
para, ao lembrá-la, acender-se.

OLSão pétalas, seu halo, o caule
cruel, não pelos espinhos;
e uns dedos sem mão nem força:
uns amputaram os outros,
aguardam sem quê nem quando.

OLTudo lhe é longe, que o rosto
procurado é inacessível,
mais que esta rosa nos fere:
na lonjura sem viagem,
para sempre ileso, inteiro,

OLpreso em seu próprio jamais,
junto de nós, sob a terra.

 

25 fevereiro 1997

José Bento
<
>
 
 
Relâmpago nº8
<
>