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Helder
Moura Pereira
 
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Estava finalmente pronto o seu ensaio
O Conceito de Praia Fluvial e Outras
Considerações. Tantas noites
a desencontrar-se com os teus horários
sexuais, tanto jantar à pressa, tanta
conversa adiada. Respirou fundo,
agora já tinha tempo para tudo outra vez.
Mas tu já não estavas lá, foste apanhar
o barco e atravessaste o rio sem dizer adeus.

Não era coisa que estivesse prevista
no seu ensaio O Conceito de Praia
Fluvial e Outras Considerações. Chegou-se
então mais perto da realidade, isto
é, foi para a praia – de cadeira, livro
e chapéu. Percebia agora que já não podia
entregar o ensaio para publicação.
Por outro lado, a parte das outras
considerações abria um campo extenso,
interminável, pelo que decidiu
escrever mais uma consideração.

Era uma coisa banal, já muitas vezes
dita e escrita, falava da dificuldade
em conciliar o trabalho intelectual
com a companhia que é preciso dar
a alguém. A verdade, a grande verdade,
é que podias ter ido a pé ou à boleia,
podias ter partido de autocarro (passa
um mesmo aqui à porta), de comboio,
teres levado o teu próprio carro. Mas
não, tinhas de ir de barco pelo rio.

 
Se as Coisas não Fossem o Que São, Assírio & Alvim, 2010
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