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A calma da alma
Armando
Silva Carvalho
 
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A ciência da calma nestas matas
em que alma passeia sem reservas
não me é dada pelos velhos que descem
pelo mapa das idades
e eu via na casa do amor
em dias adolescentes.
A alma é uma reserva natural do sofrimento.
E nas ermas colinas que descem para o mundo
a dor pelo outro resfolga como um javali
que sentimos morrer dentro do peito.

Nestas tardes de meia-idade e muita fábula
a mentira é um jogo
e a calma
uma segunda natureza em andamento.
Devemos pois pisar o escorpião
que nos invade
a sala com a voz aclimatada
às suas venenosas pinças telefónicas.
E em sossego destruir pena por pena
o pássaro do desejo.

E depois o sexo – palavra por palavra.

 
 
Lisboas, Quetzal Editores, 1999
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