<
PILAR, LA SPERANZA
SIMÃO VALENTE
POESIA
N.º 33
<
>

Praia, caminham os três. O amigo faz ver o
coral na areia. Enchem as mãos, abrem-nas.

O pó rosado nos teus dedos, meu irmão,
parece confetti que a natureza te tenha
dado, porque é Junho, e não há maior
glória do que ser maduro como o ano.

E num gesto largo, recíproco, lançamos
esse triunfo que é risos, olhares perdidos
e mais quentes do que o mar, este que é
o vosso, teu e dela, e que na sua calma
em tudo me afasta do que disseram ser
o meu. A nuvem rosa em torno dança,
a água quer ascender ao céu com cada
pontapé e tropeção, sei que chegámos.

Caímos, como o coral que nos circunda,
os sons abafam-se e a memória intervém
cheia de si mesma, somente a insistir
que existe, e que este momento é meu.

 
Relâmpago n.º 33
<
>