Quando um som fica no ar (onde
já não estamos) ele existe.
O som sozinho não é o mesmo de
quando em sua mudez o vazio
ergue muros, vácuos, hiatos,
intermitências, a que chamamos
silêncio. O som sozinho na caixa –
por exemplo – é o grito do
esquecimento. O som sozinho
no corpo é o remoer da vida
querendo. O som sozinho do mar
é nunca poder chegar.
Existe o som sem dono. Existe
o som sem casa. Existe o som sem
norte, sem mãos que o toquem.
Existe o som sem ouvido.
É como soa em nós
tudo que ouvimos ontem. |