Dizeis afinal – no que parece um claro discurso, companheiro,
e chegada a hora de manifestar os nossos receios, e talvez mentir,
a hora em que porventura de ti me despedirei, e tu de novo
fruires, no cimo da colina, o largo frio do fim que se aproxima,
não sem que antes destraces a capa, num gesto solene, desfiada,
lembrando ainda como o sol baqueava na erva espezinhada
por onde em grupos, sob os plátanos, creditávamos na voz
a tremura que o vento de ceira trazia rente aos cabelos –
“que só nos caberá em sorte acenar, acenar sempre e sem remorsos,
pois que é no que perdido foi que fomos deixando que se viva”.
Porque ousaremos então mentir, meu nobre companheiro?
Valerá o esforço em simular, a nossos pobres seguidores,
que nas saudações mais não estamos do que a compensar o nosso medo?
Mentiremos sim, mas por razões distintas, algumas as referiste,
outras por préstimo de não nos vermos vacilar em uma partida mais.
Na verdade, tal o faz o cheiro acre das primeiras chuvas sobre o verão,
crescemos de alma em alma que assim por nós passa e cauciona
a linha que da vida fomos consentindo que se faça.
E no fim, que pode ser o desta hora em que me acenas,
no largo frio de outro ano aproximando-se, outra hora no alto da colina,
cabe-nos, do que prestámos, ser restituídos na lembrança. |