<
DO SUBÚRBIO
RICARDO MARQUES
POESIA
N.º 36/37
<

Estas casas suburbanas assustam-me:
metamorfose contígua, cópia repetida

com as suas lâmpadas fluorescentes
à janela, os televisores escancarados

na bola ou na culinária e se olharmos
com atenção, os comandos impecavelmente

sujos e gordurosos, e uma cerveja barata
em cima da camilha.

Até o branco picado e sujo da parede,
o autocarro vermelho passando cá fora

na indistinção do tempo e do espaço
do que é vizinho e se avizinha:

tudo me fere como se a chuva miudinha
caindo lá fora fosse ténue rajada

de corrosivo ácido, criando crateras
nas minhas faces:

Creio que é por isso que as raposas saqueiam
os lixos suburbanos, silenciosamente,
nas noites londrinas.

 
 
de Metamorfoses
Relâmpago n.º 36/37
<