<

OO S E G U N D OO G A T O

 

Em cada gato há outro gato
um pouco menos exacto
e um pouco menos opaco.

Um gato incoincidente
com o gato, iridiscente,
caminhando à sua frente

ou ao seu lado,
o espírito alado
do que é terrestre no gato.

É o segundo gato
que permanece acordado
quando o gato está afundado

no seu sono abstracto,
aos seus pés enrolado,
espécie de gato do gato.

Ou que, mais tardo,
deambula pela sala
enquanto o gato se lava,

às vezes assomando
nos olhos do gato
como um passado imóvel e
enclausurado.
O próprio gato
não sabe

que anda por ali
algo que não cabe
dentro nem fora de si.

Manuel António Pina
<
 
 
Relâmpago nº10
Prémio Luís Miguel Nava
<