" Q U EO
D I AO? OQ
U E OO L H A RO?
"
Cheguei demasiadamente
tarde
e já todos se tinham ido embora,
restavam papéis velhos, horas mortas,
identidade, sujidade, eternidade.
Comeram e beberam
o meu
corpo e o meu sangue; e, pelo caminho, a minha biblioteca,
e escreveram a minha Obra Completa;
sobro, desapossado, eu.
Resta-me ver
televisão,
votar, passear o cão
(a cidadania!). Prosa também podia,
e lentidão, mas algo (o coração) desacertaria.
Dar um tiro
na cara como Chamfort?
Tornar-me aforista ou ainda pior?
Mudar de cidade? Desabitar-me?
Post-modernizar-me? Experienciar-me?
Mas com que
palavras ou sem que palavras?
Os substantivos rareiam, os verbos vagueiam
por salões vazios e incendiados
entregando-se a guionistas e aparentados.
Cheira demasiadamente
a morte por aqui
como no fim de uma batalha cansada
de feridas antigas, e eu sobrevivi
do lado errado e pela razão errada.
Que dia?
Que olhar?
(Beckett, Dias felizes)
Que feridas? Que estandar-
te? Que alheias cicatrizes?
Estou diante
de uma porta (de uma forma)
com o como dizer? coração
(um sítio sem lugar, uma situação)
cheio de palavras últimas e discórdia.