Não quero estar na tua festa
de dor, aborrecem-me a forma
e as bebidas. Estou, calcula, preso
às árvores e à falésia. A luz
dos que sofrem não me chega:
nem sequer carros velozes
apontados ao abismo! Nem música
a preceito, como nos filmes
de peito suspenso e mulheres
sem precedente. Não quero
escolher a roupa, enrolar a pasta
dos deuses para me distrair,
queimar a paciência com palavras
que ninguém merece. É claro,
escrevo convictamente:
há palavras que não podem
ser levadas aos bailes: vivem,
sem alma, no meio das coisas
que não têm significado, exaltam
a incerteza dos espelhos,
cantam, firmes, mil e um
modos de dançar, não este enlace
de resultado sempre igual. Sufoco
na tua festa da alegria, muito
sofrível a camisa por fora,
o olhar brilhante a dar ares
de fresco e confiante. Esta é a saga
sempre igual dos diferentes: levantas
a mão para empurrar a ideia contra
um espelho cheio de memórias.
Não há água que não queira
correr em cascata, assídua
em patamares muito diferentes:
é outra a sede que guardas
no teu cantil de mágoas, maior
mistério quando entras, menos
casta a tua raiva de sabe-se
lá o quê, uma dança ridícula
se os olhos estão riscados,
a visão povoada de segredos:
entre a pedra e o pára - brisas
gelado, pele do que se passa
por dentro, nada. |