<
POESIA
NO Nº29/30
<

Quando em passo de passeio à beira-mar
víamos em nós um reflexo de montes
escuros e ecos de canaviais na cidade, é
porque finalmente havia, para os nossos
olhos, montes escuros, que sempre aqui
tinham estado, e a cem metros da nossa porta
um pequeno canavial, desprotegido e feio,
que nunca tinha deixado de estar aqui.
Entramos agora na cidade, a cidade
parece-nos desprotegida e feia, quase
fantasma, mesmo, ainda não tiraram as luzes
de Dezembro e já vamos em Março,
misturamo-nos à hora do grande volume
das saídas, batem no nosso corpo cheios
de pressa. Vínhamos a cantarolar, cheios
de felicidade, mas agora já não nos apetece
cantar, para onde vão com tanta pressa?
Rebentam foguetes sobre a indolência,
estoiram morteiros sobre a massa acrítica,
ao pé disto a idade média brilha.

 
Prémio Luís Miguel Nava
Prémio Luís Miguel Nava
Relâmpago nº29/30
<