Acham-te todas um puto.
Pensam que não tens peso,
nem pêlos nos ouvidos,
mas apareces nas facturas da EDP
igual a esses números gigantes
de que falava Kant,
excessivos para a imaginação,
violentos para a sensibilidade.
Percorres auto-estradas de umbigos,
ao longo de crápulas em flor.
Mastigas chiclete com batatas fritas
na fumaça de uma churrasqueira de Massamá.
Metes depois a mão no bolso
e amanhas o lanche para a tua colega de trabalho.
Todas as noites,
o reflexo da vidreira da sala vai esculpindo
na camurça do sofá os corpos doridos dos pais.
Mudas de canal, de casa, de século,
e as esfinges domésticas
continuam lá, a falar do preço certo
e das notícias das cinco,
antes de adormecerem,
às escuras,
como nós. |