Como se me tivesse despistado
justamente antes de passar aquela ponte
que serve de cenário para o Grito de Munch,
alastro o meu brasão
para dentro deste compêndio
de reconciliação e imperiais.
Esperava que me acontecesse algo
para poder contar-te logo no caminho de regresso.
Mas não se escreve para abreviar a sede de um céu
no espelho brusco de um charco.
Leio-te e fico doente, outra vez.
É impossível ler Onetti ou ler-te a ti sem ficar doente.
E, no entanto, é uma questão de saúde,
de respiração vital.
Não sei como funciona tudo isso,
mas olha o que me fazes com as tuas palavras.
Vou para onde me levas. Disparo quando ordenas.
Paro para tomar um café
mas é uma cerveja que peço.
Juro que não foi por ter sede que regressei à rua.
Acontece-me isto com Onetti, digo-te,
ponho-me a falar de literatura,
quero ser o papagaio de Flaubert,
a anaconda de Saint-Exupéry,
ou, ao menos, o cordeiro de Jan van Eyck.
Mas de cordeiros estão os céus e os supermercados cheios.
Invento, por isso, um território comercial um pouco mais original,
actualizo os equipamentos,
gravo o texto de atendimento ao público.
Preparo-me para ser um autómato,
esta máquina de vender cigarros na pastelaria da tua esquina.
Nem acredito que tenhas passado por aqui,
sua vadia,
e não tenhas metido nenhuma moeda
na minha boca. |