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3.
FREDERICO PEDREIRA
POESIA
N.º 34
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Escuta como agora venho só
e é manhã na retina, os dois presos
numa conversa de ases sem razão.
A sombra levanta-se descalça e nas
mãos prepara uma fruta brilhante.
Escolho ir à roupa de cama
contar os teus cabelos até que
me convenças para o banho.
Quotidiano e tudo o mais: um dia
sento-me à mesa e não penso em nada
que já não tenha sido, apertando sinais
pelo corpo, o sangue pelos braços,
é assim: gosto de lembrar coisas que
não existem. Confluímos, sem nada
que integre ou separe nossas vontades.
Reparo com surpresa como desses olhos voam
centelhas, coisas espalhadas no nosso quintal.

 
Relâmpago n.º 34
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