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P O L A R O I D

 

Pela tarde o céu a terra
e mesmo tu formam uma densa pasta
de nuvens.
Recordo a tua boca, as tuas pernas
em arco sobre o penedo quente.

Os poços entram em colapso,
o verão arrasta multidões
para as ravinas do lugar comum.

O chapéu descaído
protege-te os olhos
que se movem com translúcido torpor.

Agora que passaram séculos
sobre esse único beijo estou
sem vontade de fingir

a relutância
do meu desejo. Esta polaroid, já seca,
encena também a minha morte.

Fernando Luís Sampaio
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Relâmpago nº8

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