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Em torno da
fogueira, os homens
afogam em café os problemas,
deixando as imagens soltar-se
de amarras que as impedem
de atingir alturas cujos cimos
já tinham sido entrevistos
ou dados como datados
pelos compêndios então
em voga na superfície.
Para trás, ficaram os poemas
latas de palavras que o vento
arrasta pelo acampamento
mas em que alguns homens
ainda procuram os motivos
que os levaram a partir
sem atender aos avisos
que lhes vinham da planície.
Servindo-se da linguagem
criaram mundos em que
apenas paravam para construir
abrigos capazes de os defender
do fulgor da aventura.
Ao certo, não sabiam
o ponto da linguagem
em que tinham caído
mas uma parte de si,
suspensa das palavras,
continuava a pulso
a ilusão da subida.
Na queda, a paisagem
fora triturada pela palavra
e em tudo o que escreviam
o sabor das estevas
lembra o horror de perceber
que só o riso do mundo
dá coesão a um real
de que já foram extintos os sentidos.