P R A Ç
AO D A
OL I B E R D A D E
Sobre a cabeça
brônzea de D. Pedro
sempre pombas repousam no bicórnio.
Dificilmente se pensa em homenagem
a excremencial oferta a que se entregam
alados bandos que nele se revezam;
melhor se inscreveriam em vingança
do ali vencido miguelismo. Ódio
velho não cansa. As pombas
são as vacas sagradas da cidade.
E também na farda de Caçadores 5
o verdete se compraz. E na Carta
Constitucional! Razão teve el-rei
para doar à invicta cidade
o coração, mas esse posto a salvo
no resguardo prateado da Lapa: ali
ouve missas, concertos de órgão.
Longe do corpo
nada o perturba, goza as flores
das beatas, o repouso do guerreiro.
Simbolicamente apenas
monta o cavalo sobre a Fonte da Arca,
revê a muralha que no seu passado
ainda protegia o mosteiro, ouve, talvez,
os doces madrigais dos outeiros de S.Bento,
pensa no passado de que é já um ícone
e de longe a longe amaldiçoa as pombas
com os palavrões que soldados e vivandeiras
lhe ensinaram nas batalhas do Cerco.