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7

O mal vem aos rostos e mata o coração.
Tivemos de aprender a dor civicamente:
o olhar ferido por inexpressões
o assobio das faces carcereiras
essa armação da voz, as predações
– e sempre tudo dentro
de espelhos verdadeiros, salões de festas, lustres…

 

8

Pedi uma carteira. Queria fazer lume
deitar fumo da garganta e ficar só.
Breves palavras de tabacaria. E mesmo aí
fiquei a dever por falta de troco.

 

9

Podia marcar as incursões do sol
por esta sala. Alimentar uma esperança
solar. Mas as estações são indomáveis
e uma casa é um jogo de janelas
que se fecham. Mosca inerte nas vidraças
laranja que apodrece sobre a mesa:
eis os pequenos seres na ratoeira.

Carlos Poças Falcão
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Relâmpago nº9
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