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Também as pedras morrem, disse Vieira
a pensar na eternidade do ser.
Aqui são mais humanas as pedras
no seu rosto inclinado para o sofisma
da água.
Miram-se nela mas não são seduzidas
pela sua passagem;
uma passagem volúvel de quem tem o mar à espera
como um sonho previsto
na loucura encrespada de algum barco.
Os homens servem-se delas para os seus aparatos;
não as deixam limpas no seu pensar
terrível e que obrigou Vieira
a dar-lhes sangue
para que nada faltasse ao sacrifício.
Trago de cor a sua vermelha companhia.
E obedeço.
Pisei-as como convém ao meu destino
de pequena coisa transumante.
Não me baixei para elas num beijo
de suborno.
Agora descrevo-as como posso e quero.
Pedras mortais
que se tornam mentais
e são a substância de um panorama surdo,
espessa melancolia,
a solidez da ausência que esmaga
o desespero.