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Se fosse possível escrever sem nenhuma tensão
com a oval fluência de um vagaroso ócio
poderíamos libertar essa plácida lua
presa entre os rígidos flancos do ventre

Teríamos então a lucidez do sono
e as pálpebras ordenariam o fluir das linhas
que estariam de acordo com o silêncio dos montes
e com a voluptuosa lentidão do mar

No vagar de lúcidas surpresas
a palavra teria a vaga monotonia
de uma nuvem que nada mais dissesse
do que a clara indolência do dia

 

De: As Palavras

António Ramos Rosa
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Relâmpago nº5
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