A verdade,
porém, é que os animais sagrados afastaram-se depois
da comunidade laica e multiracial da capoeira, e passaram a usufruir
duma altaneira existência, voando como vagabundos pela aldeia
e campos vizinhos. Todavia, dormiam sempre no ponto mais elevado
do meu telhado. O pavão covarde ficava desterrado a uma ponta;
o chefe, empoleirado, no meio das duas insignificantes damas. Eu
detestava-o. Nessa altura, ele abriu pela primeira vez o leque (transijo,
espantoso) da cauda, e entrou a cortejar em simultâneo as
escravas.
Eu procurava
captar-lhes a confiança. Chamava-os para perto de casa, comecei
com punhados de milho, que os deixavam tão indiferentes que
nem me olhavam. Quebranto daquele tratante. Mudei de estratégia:
miolo de pão, fresco, lêvedo, cozido em forno de lenha,
puro, pão caseiro. Desprezado de início, tornaram-se
uns gulosos. E estabeleceram este pacto comigo (melhor, aquela peste):
antes de se deitarem, de voarem para o cimo do telhado e de me bombardearem
com o cupo grido, vinham à porta da cozinha para
o repasto.
Mas o sujeito
queria todo o pão, bicava as fêmeas (o irmão,
o banido, não se atrevia sequer a aparecer). Eu fazia assim:
o bocado maior para ele, lançado para longe, e cibinhos macios,
afagados, para elas, próximas, a fim de que os engolissem
logo. Era pérfido porém estava sempre mais
esbelto, as duas amantes seguiam levemente o príncipe, cujos
olhos me fulminavam (pensava) de desdém.
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