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ANTÓNIO CARLOS CORTEZ
POESIA
N.º 35
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dead can dance Um temporal
abate-se sobre a cidade Mais uma vez
o temporal interno (o meu inferno
interior num estertor onde me sinto
vogar à deriva sem que ninguém saiba)
A letra lembra um oriente sem lugar
espaços amplos do deserto onde gostarias
de esquecer lembrar talvez imagens
refractadas O jogo desprende-se agora
que imagino o fio do fogo desse corpo
desenrolar-se numa língua bárbara
berbere Dead can dance Mais do que música
é a morte podendo talvez
dançar O temporal diz-me que sim
Vejo bem as faces queimadas do álcool
(um sol negro tolda o rio em combustão)
A música penetra-me até ao osso o coração

 
Relâmpago n.º 35
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