Ferragosto. Roma vazia, elegante. Um dândi
das máquinas conhece um rapaz
que estuda Jurisprudência.
Tímido um, o outro efusivo, vão
estrada fora, das piazzas e bairros
burgueses do boom em direcção à Toscana.
Amigos hipotéticos, aprendem
a necessidade e o engenho, a fantasia e a fuga
em frente, a fé no movimento.
Comédia tão triste, tão fugaz, tão italiana,
como a confiança intempestiva de Gassman
ou a cortesia atónita de Trintignant.
Férias grandes atravessadas por um Lancia,
as cançonetas radiofónicas, klaxons,
o biquíni europeu de Catherine Spaak.
Então uma noite sentamo-nos com Il sorpasso
que o meu pai não vê há meio século,
a inquietude tranquila, o existencialismo lúdico,
a ultrapassagem. E chegados ao fim Gassman diz
do seu impossível amigo, do miúdo que morreu:
“nem soube como se chamava”.