Descobrir o cinema era muito parecido com o acesso à poesia: era, afinal, de imagens que sempre se tratava. Havia, é claro, a música, a pintura, as outras artes, todas num plano de idêntica importância. Porém, era talvez no movimento das imagens, ligando-se segundo uma dinâmica capaz de surpreender quem as olhava (com um olhar que estranhava), era talvez aí que sobretudo nos concentrávamos: nessas artes que traziam à nossa juventude as inesperadas emoções esperadas. No cinema, a chegada de Bergman (Sorrisos duma Noite de Verão, Morangos Silvestres), Antonioni, Resnais, filmes acabados de fazer. Os rostos: Moreau (A Noite). E as vozes podiam igualmente fascinar-nos: Delphine Seyrig (L’année dernière à Marienbad, 1961, ou India Song, alguns anos mais tarde). Filmes, poemas: ver e ouvir imagens.